Dr Quelson Coelho – Gastroenterologista e Hepatologista

Os resultados de uma pesquisa com mais de 53.000 pessoas sugere que o uso de medicamentos para Gastrite conhecidos como inibidores de bomba de prótons (exemplo: Omeprazol, Pantoprazol ou outros semelhantes) uma ou duas vezes por dia aumenta significativamente as chances de um teste positivo para Coronavírus em comparação com aqueles que não tomam esse medicamento.

(Lembrando que Omeprazol, Pantoprazol, Esomeprazol ou qualquer desses medicamentos teriam o mesmo efeito. No texto vou me referir apenas como o Omeprazol.)

Omeprazol aumenta o risco de COVID-19

Os pesquisadores Christopher V. Almario, MD, MSHPM e Brennan M. R. Spiegel, MD, MSHS, FACG do Cedars-Sinai em Los Angeles juntamente com William D. Chey, MD, FACG da Universidade de Michigan conduziram uma grande pesquisa online para avaliar se o uso de Omeprazol aumenta o risco de COVID-19.

“Desenvolvemos esta hipótese no início da pandemia de COVID-19 quando começamos a ver uma alta incidência de sintomas gastrintestinais e aprendemos que o vírus se deposita na saliva, e assim pode ser engolido e ir para o estômago”. Agora testamos a hipótese em um estudo rigoroso com mais de 50.000 americanos e a constatamos”, comentou o Dr. Almario.

O ácido do estômago proteje o nosso corpo

Segundo os investigadores, o Omeprazol aumenta o risco de infecções intestinais que provavelmente estão relacionadas à baixa acidez induzida pelo Omeprazol, ou baixos níveis de ácido gástrico. “Embora o impacto da diminuição de ácido na infecção pelo Covid-19 seja desconhecida até agora, dados anteriores revelaram que o pH ≤3 prejudica a infectividade do similar Coronavirus-1. Assim, o nosso objetivo era determinar se o uso de Omeprazol aumentaria as chances de infecção pelo COVID-19”, escrevem eles.

De 53.130 participantes, 3.386 (6,4%) relataram um teste positivo de COVID-19. Na análise estatística, indivíduos usando Omeprazol uma ou duas vezes ao dia tiveram chances significativamente maiores de relatar um teste COVID-19 positivo quando comparados àqueles que não fizeram uso do Omeprazol.

“Há uma razão para termos ácido em nosso estômago, ou seja, para matar patógenos antes que eles entrem no trato digestivo”, comentou o Dr. Spiegel, Co-Editor-chefe do The American Journal of Gastroenterology. “Os coronavírus são facilmente destruídos a um pH gástrico inferior a 3, mas sobrevivem em um pH mais neutro, incluindo a faixa criada por drogas como Omeprazol e Esomeprazol”.

“Encontramos um efeito forte e dependente do uso de Omperazol sobre o risco de COVID-19, incluindo uma relação dose-resposta com um risco quase quatro vezes maior por duas doses diárias”, acrescentou ele.

O intestino pode ser uma porta de entrada para o Coronavírus

Segundo o Dr. Spiegel, “pesquisas anteriores já demonstraram que o Omeprazol aumenta ligeiramente o risco de infecções intestinais, mas o forte elo encontrado aqui fala da patogênese COVID-19 através do trato gastrointestinal, onde a expressão dos receptores que o vírus usa para entrar no corpo, conhecidos como receptores ACE-2, é aproximadamente 100 vezes maior do que em qualquer outra parte do corpo, incluindo os pulmões”.

Brian E. Lacy, MD, PhD, FACG, Co-Editor-Chefe do The American Journal of Gastroenterology comentou, “Os resultados deste grande estudo, de uma equipe experiente de clínicos e pesquisadores, são intrigantes e acrescentam informações novas e clinicamente relevantes ao campo em rápida evolução da COVID-19 durante esta pandemia devastadora. Estudos anteriores mostraram que o Omeprazol aumenta ligeiramente o risco de uma infecção que se desenvolve no trato gastrointestinal.

Agora reconhecemos que os receptores para COVID-19, (ACE-2) são encontrados em todo o trato gastrointestinal, o que suporta a plausibilidade biológica de que o uso de Omeprazol poderia estar associado a um risco maior para a COIVD-19. Entretanto, como os autores apontam cuidadosamente em sua análise, este não é um estudo randomizado, controlado por placebo, mas sim um estudo demonstrando uma associação, e assim estudos de outros grupos devem ser analisados para confirmar estes novos achados”.

Os pacientes que tomam Omeprazol não devem fazer nenhuma mudança em seu tratamento devido a este estudo sem consultar seu médico, especialmente se os pacientes precisam de Omeprazol para tratar seus distúrbios digestivos. Todos devem estar atentos à propagação da COVID-19 e usar máscara, observar o distanciamento social e lavar ou higienizar meticulosamente suas mãos.

Temos que lembrar que a associação não prova causalidade, mas existem dados biológicos razoáveis que mostram que um pH mais baixo prejudica a infecciosidade dos coronavírus, o que proporciona uma plausibilidade biológica.

O estudo na íntegra (em inglês) pode ser encontrado aqui.

Fonte:

https://www.newswise.com/coronavirus/increased-risk-of-covid-19-among-users-of-proton-pump-inhibitors-ppis/?article_id=734293

Leia também:

Sobre o autor:

Respostas de 4

  1. Fui submetido a um tratamento odontológico em fevereiro de 2019.

    Dois meses após, tive uma dor fortíssima, da garganta ao estômago. Ela se assemelhava a uma terrível dor de infecção de garganta. Isso levou vários meses para me dar trégua.

    Em abril deste ano, tive uns dois meses da referida dor e, hoje, após um reinício de tratamento de dentes ela retornou, forte.

    A dor é insuportável. Tenho que tomar analgésico para suportá-
    lá. Realizei, desde a primeira “crise”, inúmeras consultas e exames de sangue e imagens para com diversas especialidades médicas: clínico geral, infectologista, gastroenterologista, otorrinolaringologista, cabeça e pescoço, alergologista, além de dentistas. Nenhum diagnóstico obtive, apenas hipóteses que variavam de refluxo (que sei que tenho) e fibromialgia. Receitaram-me Torsilax, Esomeprazol e Prebictal. Desses, parece que apenas o último me dá um pouco de alívio, ou seja, não resolve o problema em sua origem.

    No início, cheguei a ficar tão profundamente preocupado com essa dor, que pensei se tratar de algum tipo de tumor. Após a realização de exames de sangue, raios-X, ultrassonografia, alergia e tomografia da região pescoço/tórax, nada de anormal foi detectado.

    Gostaria de saber se poderia haver nesse meu problema, uma relação com o anestésico ou outras substâncias utilizadas no procedimento odontológico que realizei, pois agora, sempre que me submeto a esse tipo de tratamento, essa tal dor reincide. Não sei mais o que fazer!

    Estou aberto para me submeter a consultas com objetivo de identificação do problema.

    Obrigado!

  2. Obrigada pelo esclarecimento! Chega até nós ‘leigos’ tantas informações contraditórias e absurdas, de mídias e até mesmo de profissionais de saúde que ficamos perdidos. Tendo acesso de estudos de profissionais sérios nos sentimos mais confiantes e acolhidos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *